Dia 1º de julho nós vamos parar, mas para reivindicar certo o que é certo!!

Munir Charruf

Para quem não me conhece, sou cirurgião geral, trabalho ma baixada santista, a mais ou menos 70 km, ou uma hora, da maior cidade da América Latina.
Recebi na emergência um garoto de 15 anos, vítima de atropelameto. Já entubado, num atendimento exemplar do SAMU. Veio junto a famiília. Paciente grave. Instável hemodinamicamente. Meu serviço não tem tomo, não tem usg, não tem neurocirurgião. Apesar de ser um dos únicos três hospitais de referência do Sus na região.
Operamos o garoto, lesões em fígado, baço, drenagem de tórax. Estabilizamos o paciente. Mas e a vaga de UTI? Quem que o intensivista vai tirar dos 10 leitos cheios? Mas e a tomo de crânio para avaliar o TCE? E o neurocirurgião? Não tem! Aguarde! Espere! Tenha fé ma central de vagas!
E o que eu falo para a mãe do menino?
Depois das 5 horas de cirurgia e de mais 5 horas esperando, tendo fé o levamos em vaga zero para outro abatedouro.
Neste não tinha vaga, mas tinha tomo e um neurocirurgião. Mais um com ar sonhador, mais um cansado mas persistente.
O menino morreu. Mas se o acidente dele tivesse ocorrido depois dos médicos esteangeiros chegarem ele estaria vivo.
Estaria vivo porque os nossos colegas de fora tem super-poderes. Eles curam com as mãos, seus pacientes não precisam de exames, não precisam de vagas de UTI. Eles são melhores que nós.
Vamos reverenciá-los e esperar os seus milagres. Que operem sem fios, que entubem sem respirador. Que atendam na rua.
Que o povo nos desulpem por tentar fazer a diferença e socorrer, e salvar vidas quando era s chamar os todo poderosos médios estrangeiros.

Não adianta nós cobrarmos sem saber o que cobrar, não adianta nos manifestarmos sem saber o que reivindicar. Temos que nos organizar e cobrar o que é nosso por direito afinal de contas nós somos os donos desse país.